terça-feira, 22 de junho de 2010

Ainda sobre a LEITURA (3.º módulo)

Os resultados dos diversos estudos internacionais (PISA) e os estudos feitos antes da elaboração do Programa de Português leva-nos a reflectir sobre as nossas práticas em sala de aula. Na verdade, a competência da leitura tem ocupado um espaço muito mais vasto do que, por exemplo, o da escrita, porém o tipo e a complexidade das actividades, os procedimentos e os recursos didácticos não têm sido os mais proficientes e, por isso, (como demonstra as conclusões dos estudos do PISA) tal não tem culminado em leitores competentes - capazes de compreender, usar todo os tipos de texto e reflectir sobre eles, de modo a atingir os objectivos, a desenvolver os seus próprios conhecimentos e potencialidades e a participar activamente na sociedade - e rendidos ao acto de ler. É preciso repensar sobre o que temos feito e os resultados (nada animadores) daí decorrentes e, à luz da visão renovada da leitura que o Novo Programa veicula, mudarmos as nossas metodologias de didactização. De facto, “a ênfase colocada na competência da leitura, nas orientações de gestão que sublinham a importância de experiências de aprendizagem significativas e desafiadoras, que possibilitem a progressão dos alunos para patamares sucessivos em termos de maior complexidade e eficácia leitora (página 4, Gip da leitura)” mostra o quão necessária é a mudança, reconhecendo-se, nesta perspectiva e suas indicações pedagógicas, as potencialidades e as mais-valias para o aluno-leitor.
Sempre me questionei sobre o modo como conduzia as actividades da leitura, chegando sempre à conclusão de que as estratégias nem sempre eram as melhores, as mais profícuas, as mais actualizadas. A fase da pré-leitura, em muitos casos, era tratada de forma muito superficial. É certo que tentava criar momentos de expectativa, de antecipação sobre o tema, sobre o título... porém foram mais a vezes em que pronunciava a famosa frase: “Hoje vamos ler o texto da p. x…”. O Novo Programa e o GIP propõem orientações e estratégias para as fases da leitura e isso constitui, sem dúvida, uma enorme ajuda para entendermos a nova abordagem das actividades de leitura e passarmos a incluí-las nas nossas planificações (sequências didácticas).
Tentei aprender com os mais experientes e com a pesquisa nos diversos manuais escolares, experimentei inovar, adaptar e adequar. Isso não bastou, reconheço. Se por um lado, de facto, nos falta tempo, por outro vamo-nos acomodando com tal desculpa. Este Novo Programa e toda a filosofia que lhe está inerente impele-nos para um investimento mais sério na actualização e renovação das nossas práticas.
Fui aprendendo que era fundamental desenvolver no aluno os raciocínios mais complexos, fazê-lo captar os sentidos implícitos, fomentar a sua reacção e avaliação em relação a determinada personagem, acontecimento... em vez de, sistematicamente, me limitar a fazer as habituais perguntas de identificação. Contudo, “pecadora me confesso” sobrevalorizo, ainda, o texto narrativo em detrimento da diversificação (palavra-chave ouvida nos dois dias da formação presencial) de outros tipos textuais, nomeadamente o informativo. Sei agora que “o estímulo e as práticas de leitura devem conviver com a aprendizagem da chamada literacia informacional, sendo esta a capacidade para localizar, seleccionar, avaliar e utilizar a informação de que se necessita” (Recomendações da Conferência Internacional sobre o Ensino do Português).
Confesso que graças às PASE, o texto informativo foi ocupando, timidamente, o seu espaço. Mas isto não basta, tenho consciência de que preciso planificar adequada e equilibradamente de modo a que possa proporcionar aos alunos o contacto, de igual modo, com o texto narrativo, lírico, dramático e informativo... Não esquecendo que “é fundamental construir conhecimento sobre a forma como os diferentes tipos de texto se estruturam para que a compreensão não seja fruto do acaso, mas o resultado de uma atitude consciente de leitura, na medida em que se antecipam expectativas face a cada novo texto.” (GIP – página 11).
Ficou presente que as actividades de leitura deverão ter fundamentos claros e precisos que constituam desafios de aprendizagem. Os alunos deverão ser levados a estabelecer relações entre textos (a leitura alimenta-se de outras leituras). A apresentação de um variado corpus textual que respeita a representatividade e a integralidade dos textos permite-nos desenvolver nos alunos uma consciência crítica do património linguístico e cultural que “enforma uma identidade nacional e, também, universal”. O contacto permanente com textos literários, com um bom trabalho de mediação levado a cabo pelo professor, garante uma “educação literária” plena.
Orgulho-me de transmitir aos alunos (pelo menos, a maioria) o gosto pelo acto de ler - ler por prazer. A leitura recreativa desempenha um papel primordial na transmissão e aquisição deste gosto pela leitura. Foi assim que tudo começou: lia parte de textos que suscitavam a curiosidade e apelavam à imaginação, mais tarde fui apresentado os livros que lia, emprestando aqueles que tinha, adequados à respectiva faixa etária. Sem qualquer sentido de obrigatoriedade, fui solicitando aos alunos que assim que acabassem de ler o seu livro, que o apresentassem à turma. Passámos a ir à biblioteca com o objectivo de saber os tipos de livros que lá havia, folheá-los, apreciar títulos... Aos poucos, a actividade “apresentação do meu livro” foi ganhando o seu espaço. Há, ainda, muito a fazer, eu sei. Quero continuar a aprender e a evoluir de modo a que na minha sala possa tornar os meus alunos melhores leitores e mais competentes.

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