sábado, 29 de maio de 2010

3.º Módulo - REFLEXÃO

3.º módulo – reflexão (11 e 12 de Fevereiro)

Neste módulo estivemos em “contacto” com a leitura. É interessante verificar que, à entrada no 1.º ciclo, o mais importante acto de aprendizagem centra-se na leitura. Há desde logo uma grande preocupação para ensinar a ler: descodificar e atribuir significado às palavras, ensinando, mostrando e orientando os alunos a estabelecer uma correcta relação fonema/grafema, e, progressivamente, dando-lhes a conhecer a importância da morfologia, da sintaxe, do léxico e da semântica. Não culminando este acto em sucesso, as outras aprendizagens estarão comprometidas.
Entretanto o que é que acontece no meio deste percurso para que o aluno, tendo já adquirido a autonomia e a velocidade de leitura, tal como propugna o Currículo Nacional, deixe de sentir motivação para a leitura: vontade para ler tudo o que quiser e quando quiser? Estará este facto relacionado com a experiência penosa da aprendizagem da leitura, com os métodos de ensino? Ou com a actual conjuntura social e cultural e com todo o universo caleidoscópico de distracções? Vão-se perdendo as práticas sociais de leitura?
Não tendo o aluno desenvolvido - a par da capacidade de descortinar o código linguístico que lhe possibilita desvendar o desenho gráfico e por isso mesmo dar-lhe sentido - as competências referencial e discursiva, o acto de leitura torna-se oco/vazio e, dificilmente, ler será um prazer. Com efeito, uma notícia, um texto narrativo - por exemplo - não serão mais, portanto, do que um conjunto de frases sintáctica e semanticamente organizadas, porque o aluno não consegue mobilizar e relacionar os seus conhecimentos anteriores que lhe permite compreender tal notícia e/ou o texto narrativo.
O professor tem a função de mostrar ao aluno as potencialidades que a leitura oferece. A leitura ajuda-nos a descobrir e a interpretar o nosso mundo, outros mundos e, até mesmo, o nosso eu. Na verdade, muito mais do que a dimensão linguística, está também a dimensão semântica e todo um universo referencial, funcional e criativo, associando-se a capacidade de o aluno ir aprendendo a estabelecer as devidas relações lógicas e proposicionais. É isto que o aluno precisa perceber, compreender e desenvolver por meio da leitura diversificada, continuada e passando por escolhas cada vez mais complexas. Ler exige esforço cognitivo: acto de pensamento, acto de conhecimento, capacidade para fundamentar e criticar. A escola, segundo Clara Ferrão Tavares, não poderá contentar-se em “mandar ler” raramente fornecendo os instrumentos de ordem referencial e discursiva que sustentam as operações cognitivas de nível superior. Ler para obter informação, organizar e alargar o conhecimento, ler para apreciar textos variados, ler para analisar e confrontar pontos de vista. Neste sentido, o texto informativo e científico deve ser trabalhado com maior frequência, ao contrário do que tem vindo a acontecer.
Com efeito, não chegando a este nível superior, o aluno não desenvolve plenamente a competência leitora e, deste modo, não lhe é garantido o acesso à literacia plena “visando a integração do indivíduo nas diferentes comunidades em que se insere socialmente e a criação de hábitos de leitura que se mantenham ao longo da vida” (GIP da Leitura p.5).
Segundo Emília Amor, “à escola (e consequentemente, ao professor) cabe, sobretudo, promover a leitura funcional, a leitura analítica e crítica e a leitura recreativa”. O professor deve perpetuar no aluno a necessidade (individual e social) e o gosto de ler. Emília Amor diz que “anterior à aprendizagem das diversas modalidades de leitura e do seu uso intencional e sistemático, há que promover uma relação íntima do aluno-leitor com os livros e objectos de leitura: a forma pessoal e libertadora de se viver a leitura”. Então, quanto a mim, o professor deve, em primeira instância, exemplificar esta relação ao nível professor-leitor através das suas propostas de leitura, proporcionando momentos em que fale dos livros que já leu, do livro que está a ler, transmitindo-lhes a sua importância na formação profissional e cultural, os ensinamentos/conhecimentos que daí retirou ao longo da sua vida, só assim, tendo o professor como leitor confesso e praticante é possível estimular e diversificar as leituras.
A sala de aula é por excelência o espaço para se conhecer o perfil do aluno-leitor - os seus conhecimentos e capacidades, os seus interesses e hábitos de leitura - para que se estabeleçam objectivos, se definam estratégias, se criem contextos no sentido de se ir modelando, reajustando e complexificando a leitura. As estratégias propostas pelo GIP da leitura, algumas das quais já por mim aplicadas, em muito ajudam a desenvolver o gosto pela leitura e a melhorar a minha prática neste campo, ainda assim prevê-se um trabalho aturado de pesquisa, preparação e planificação cuidadas para que as experiências de leitura sejam ainda mais gratificantes e significativas. É também enorme a preocupação em desenvolver nos alunos as competências comunicativas e literárias, que se consubstanciam, posteriormente, numa educação literária efectiva e proficiente, o aluno deverá, então, ser capaz de usar em contextos adequados a linguagem metalinguística e metaliterária.
Quanto ao Plano Nacional da Leitura, este apresenta-se de uma forma bastante cativante que deve ser explorado na presença do aluno. As obras propostas são, na minha opinião, adequadas a cada ciclo. Julgo no entanto que, para além da referência ao autor, ao título e à editora, se deveria contemplar o tipo de texto. A toda a “roda” de propostas de leitura, acrescentaria “LER+ é saber mais” contendo sítios onde os alunos pudessem pesquisar sobre a biografia dos vários autores, consultar e ler revistas (a Visão Júnior, por exemplo), aceder a textos informativos sobre o mais diversos temas/assuntos da actualidade (economia, desporto, política, ciência, televisão, cultura…) e próprios a cada faixa etária no sentido de, também, elevar o nível cultural. O papel da família na promoção da leitura é também louvável, já que se quer recuperar as práticas sociais de leitura, que devem, sem dúvida, começar no seio daquela.
Nesta sessão, fomos levados a reflectir sobre as nossas planificações para se chegar à elaboração de uma sequência didáctica (depois de se ter analisado um modelo). Foi uma tarefa relativamente complexa: chegar à competência foco foi fácil, mas articulá-la com as competências associadas, sugerir e adequar as actividades e determinar o tempo tornou-se tarefa árdua. Julgo que o estudo, a pesquisa e a prática aperfeiçoarão este novo modelo.

Sem comentários:

Enviar um comentário