quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

2.º Módulo - REFLEXÃO

2.º módulo – reflexão (12 e 13 de Novembro)
Neste segundo módulo fez-se uma abordagem bastante pertinente sobre o Conhecimento Explícito da Língua (CEL). Ficou mais clara a distinção entre esta terminologia e a de Funcionamento da Língua, pondo-se em relevo o lugar – nuclear - que o CEL passa a ocupar. A perspectiva de que o aluno, no início da sua escolaridade, possui já um conhecimento substancial da língua (conhecimento implícito) implica que para o ensino da gramática adoptemos outros princípios metodológicos que vão ao encontro então do tal conhecimento gramatical implícito do aluno.
Porém, esta é uma competência que tem sido trabalhada, em larga medida, isoladamente. Parece não haver “espaço” para a relacionação com as outras competências, ou melhor, há mas de forma muito velada. Por consequência, muito dificilmente os alunos reflectem sobre os erros que cometem, quer na oralidade quer na escrita. Não podemos dizer que não mobilizam conhecimentos, na verdade fazem-no de uma forma implícita, pois possuem um manancial de conhecimentos linguísticos que lhes permite isso, mas é necessário diagnosticá-los, convocá-los e trabalhá-los para que o façam também de forma explícita e consciente. Ora tudo isto requer novas abordagens, novos princípios metodológicos, um dos quais se consubstancia numa aprendizagem pela descoberta, um trabalho oficinal, de experimentação, de aprendizagem por tentativa e erro, de treino, de aplicação, de revisão... Tornar o CEL funcional, significativo e mobilizável é o baluarte deste novo programa. O professor tem um papel primordial no sentido de ir ajudando os alunos na descoberta, na (re)construção do seu conhecimento e, consequente, melhoria do seu desempenho e que este esteja sempre ao serviço das restantes competências, tal como propugna este documento na página 114: «[...] o reforço do estudo sistematizado sobre a língua concretiza-se quer no âmbito das actividades de comunicação oral, de leitura e de escrita, quer em práticas oficinais específicas concebidas de modo a que o reinvestimento de conhecimentos permita um aperfeiçoamento dos desempenhos nos modos oral e escrito.». É essencial proporcionar-lhes situações reais, ficcionais, motivadoras... com o objectivo de fazê-los ver que em tudo há articulação, transposição e significado, que quando se estuda num dado momento o adjectivo – por exemplo – é preciso ir mais além, compreender a sua plasticidade, a sua variabilidade, e, ainda, mais à frente, passar da morfologia para a sintaxe, da sintaxe para a semântica e da semântica para a pragmática. Reconhecer que está perante um adjectivo, mas acima de tudo é fundamental saber as relações que mantém com outras palavras, o espaço que ocupa, a explosão de sentidos que desencadeia e assim torná-lo numa “ferramenta” de uso para enriquecer o seu discurso, oral e escrito.
É importante que eles saibam que devem ser capazes de ouvir, escrever e falar bem e para isso é preciso estudar, memorizar, treinar e aperfeiçoar constantemente o que aprendem.
A escrita foi outra competência abordada, depois de se ter trabalhado em pequeno grupo e observado as propostas de escrita retiradas de diversas manuais. Verificamos que é inegável o esforço para se apresentar actividades com o objectivo de fazer os alunos praticarem a escrita, porém esta era vista como um produto e não um como um processo. Não havia menção ao planeamento, à revisão, à correcção e à reformulação. A divulgação dos escritos, com tudo o que de positivo tal acarreta, não era indicada. Concluiu-se, então, que os momentos de escrita eram artificiais.
A escrita deve ser entendida como um processo, obedecendo durante este processo a diversas etapas, agora bem patentes neste novo programa ao postular que em todos os ciclos se faça a planificação, a textualização e revisão. Todas estas etapas permite ao aluno a reflexão do que está a criar, a imaginar e a necessidade de querer melhorar. Não se lhes está a toldar a capacidade para convocar o mundo imaginário, mas sim a oferecer-lhe meios para tornar esse mundo mais belo, criativo, cativante e apelativo à leitura para o prazer da posterior divulgação. Desta forma, vai interiorizando as regras, vai convocando os “ensinamentos”, aprende a mobilizar os conhecimentos (aqui o acompanhamento e o alerta do professor para as aprendizagens feitas no âmbito do CEL é fundamental). Este modo de comunicar – “regulador” escrita e “escritor” – torna-se numa aprendizagem efectiva, significativa e completa, preparando o aluno para o próximo passo mais complexo, é certo, mas mais seguro. Tudo isto só é concretizável se se proporcionar aos alunos experiências de escrita apelativas com orientações suficientemente motivadoras (em especial para aqueles que acham que esta é uma tarefa enfadonha) conducentes a um propósito e a uma finalidade clara e objectiva.
Foi também dado ênfase à compreensão do oral. Compreender o que se ouve pressupõe escutar com atenção e, ao mesmo tempo, activar conhecimentos cognitivos (e declarativos) para que essa atenção se mantenha. Importa adequar aquilo que se diz, havendo deste modo (a um nível mais alto) uma perfeita dialéctica entre emissor e receptor, com troca constante de papéis. Ora na sala de aula, o trabalho sobre as competências da compreensão oral e da expressão oral exige reflexão e planificação cuidadas. É preciso dar ao aluno actividades (sistemáticas) de escuta bem definidas, concretas e claras – contexto, propósito, tema – para que haja uma profícua comunicação linguística com variadas interacções verbais e cujos discursos possam ir evoluindo do mais informal ao mais formal, pondo-se em prática o princípio da progressão no que aos resultados esperados e descritores de desempenho dizem respeito. Tudo isto requer, igualmente, tempo, treino e, à semelhança do CEL e da Escrita, trabalho oficinal.
Cabe-nos a tarefa de exigir que haja rigor quando se fala, mas tal também deve ser exigido por toda a sociedade, valorizando-se desta forma a ferramenta que nos permite aceder, em primeira instância, ao conhecimento.
O dia treze terminou com uma grande preocupação, a anualização. Quanto a mim, é necessário compreender e interpretar muito bem a progressão (segundo Emília Amor: “O conceito de progressão apresenta-se, no que diz respeito à didáctica das línguas, como um dos de mais difícil abordagem (...) Como manifestação desta dificuldade, sublinha-se a insuficiência das referências teóricas e, sobretudo, a inexistência de sistemas ou modelos de progressão perfeitamente fundamentados e em estreita articulação com o espírito das abordagens renovadas da língua”) à luz do que dita o novo programa de português para que se faça uma correcta anualização, com todos os pressupostos que lhe estão subjacentes e inerentes. Trabalhar, então, a anualização requer muito estudo e treino. Para já, os exercícios de anualização que farei com os meus colegas de Departamento será na óptica da aprendizagem por tentativa e erro.

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